quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

No final do século XIX, 1892-1898, em Fortaleza, surgiu um grupo com a típica irreverência do Ceará, chamado Padaria Espiritual com o intuito de ser reconhecido nacionalmente e tornando-se ao mesmo tempo um dos nossos símbolos nacional, regional e literários.

Idealizado por Antônio Sales, que tratou de fazer um regimento interno e ser o primeiro presidente, ou Padeiro-mor, o grupo “incomodou burgueses e autoridades constituídas” por seu sarcasmo altamente crítico e refinado que agradou escritores de outros Estados com Raimundo Corrêa , que escreveu na crônica “Carta à Padaria”, um elogio à “rara coragem” de publicar livros sem cotação no mercado local.

Todos os integrantes desse grêmio literário eram chamados de “padeiros”, sua primeira sede foi o Café Java, em 30 de maio de 1892, local ainda frequentado mesmo depois que se mudou a sede oficial.


Teve o grupo originalmente vinte fundadores, depois recebeu mais catorze, em 1984, ano em que a Padaria se reestruturou. Todos usavam um criptônimo, geralmente formado de palavras em tupi, nacionais ou nomes populares. Segue a lista que Sânzio fez na edição fac-símile do jornal “O PÃO” :

Primeira fase:
1-Jovino Guedes (Venceslau Tupiniquim) 2-Antônio Sales (Moacir Jurema) 3-Tibúrcio de Freitas (Lúcio Jaguar) 4-Ulisses Bezerra (Frivolino Catavento) 5-Carlos Vítor (Alcino Bandolim) 6-José de Moura Cavalcante (Silvino Batalha) 7-Raimundo Teófilo de Moura (José Marbri) 8-Álvaro Matins (Policarpo Estouro) 9-Lopes Filho (Anatólio Gerval) 10-Temístocles Machado (Túlio Guanabara) 11-Sabino Batista (Sátiro Alegrete) 12-José Maria Brígido (Mogar Jandira) 13-Henrique Jorge (Sarasate Mirim) 14-Lívio Barreto (Lucas Bizarro) 15-Luís Sá (Corrégio Del Sarto) 16-Joaquim Vitoriano (Paulo Kandalaskaia) 17-Gastão de Castro (Inácio Mongubeira) 18-Adolfo Caminha (Félix Guanabarino) 19-José dos Santos (Miguel Lince) 20-João Paiva (Marco Agrata).

Segunda fase:
1-Antônio de Castro (Aurélio Sanhaçu) 2-José Carlos Júnior (Bruno Jaci) 3-Rodolfo Teófilo (Marcos Serrano) 4-Almeida Braga (Paulo Giordano) 5-Valdemiro Cavalcante (Ivan d’Azof) 6-Antônio Bezerra (André Carnaúba) 7-José Carvalho (Cariri Braúna) 8-X. de Castro (Bento Pesqueiro) 9-José Nava (Gil Navarra) 10-Roberto Alencar (Benjamin Cajuí) 11-Francisco Ferreira do Vale (Flávio Boicininga) 12-Artur Teófilo (Lopo de Mendoza) 13-Cabral Alencar (Abdul Assur) 14-Eduardo Sabóia (Brás Tubiba)

Mostraremos neste artigo quais os símbolos que a Padaria Espiritual elegeu enquanto referência prática comum a intelectuais no século XIX.

Na época o que se sobressaiu à produção literária da Padaria Espiritual foi a crítica sarcástica. Esse grêmio literário manteve contato com demais intelectuais de outros Estados da União. Daí a hipótese de ter sido inspiração para a Semana de Arte Moderna em São Paulo, uma vez que o pré-modernismo teve justamente a mesma ideia de criar uma arte puramente nacional. No entanto, no seio do grupo estiveram presentes influências externas ao Brasil como o Simbolismo que surge aqui no Ceará em primeira mão por um dos padeiros, através do livro "Phantos " de Lopes Filho.

No Ceará, por volta de 1890, os eflúvios simbolistas obtiveram bastante notabilidade naquele diversificado meio literário e intelectual. Surgido entre as manifestações realistas e românticas, o Simbolismo cearense inaugurou-se com duas importantes obras: O Phantos, de Lopes Filho, publicado em 1893 – a primeira obra simbolista impressa no Ceará e, comprovadamente, no Brasil – e, em segundo lugar, o Dolentes de Lívio Barreto.

Além de estéticas literárias como o Simbolismo, muitas influências vinham da Europa, principalmente da França, dentre as modas e padrões higiênicos de comportamento que criava em Fortaleza uma ideia de status sobre a classe média e os intelectuais que se uniam em agremiações.

Em certa medida, pode-se dizer que uma delas é a Padaria Espiritual, pois alguns de seus integrantes como Antônio Bezerra, Valdemiro Cavalcanti e outros fizeram parte dessas camadas sociais mais abastadas. Entretanto, o grupo fazia restrições em seu estatuto a menções de coisas ou palavras estrangeiras e pregava o ódio à burguesia. Neste sentido cabem as perguntas: em que reside essa contradição? Em que reside esse ódio à burguesia? Não se trata de um nacionalismo oculto na Padaria Espiritual? Qual a idéia de nação que esse grupo tinha no século XIX, momento em que se definia novos símbolos para a sociedade brasileiras com o advento da república?

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